domingo, 2 de maio de 2010

As polêmicas cartas de Anayde e João Danta

Considerada a mais importante personagem feminina da década de 30, Anayde Beiriz foi uma mulher à frente de seu tempo

Professora formada, ela viveu na Capital no tempo que as mulheres não tinham muitos direitos. Ousada, Anayde escrevia para jornais, usava calças e decotes, fumava em público e pintava e cortava os cabelos bem curtos. Era avessa à ideia de casar e ter filhos.

Aos dezessete anos concluiu o curso normal e foi diplomada em primeiro lugar da turma. Com 20 anos ganhou um concurso de beleza. Em 1928, no auge dos 23 anos, ela se tornou namoradora de João Dantas, assassino de João Pessoa. Por este motivo, acabou sendo vítima de preconceito e discriminação pela sociedade da época.

Algumas inverdades envolvendo o nome de Anayde Beiriz são propagadas até hoje, adverte o pesquisador Wellington Aguiar. É que alguns historiadores afirmam que o motivo que levou Dantas a matar João Pessoa seria a divulgação de supostas cartas de amor escritas por Anayde a seu amado. E que o advogado teria agido em defesa de sua honra.

O filme "Parahyba, mulher macho", de Tizuka Yamasaki, reforça essa versão. Nele, há cenas em que cartas de amor e fotos de Anayde e Dantas que são publicadas pelo jornal. Os segredos do casal viraram motivos de zombação pela cidade. O advogado descobre que foi João Pessoa quem determinou a publicação e o mata.

"Mas tudo não passa de uma mentira histórica. Essas cartas e fotos nunca existiram. A família de Anayde chegou até a processar Tizuka por causa do filme", declara Wellington Aguiar.

"A revolução de Princesa estava no auge e Dantas era espião de José Pereira. Ele decidiu dar cabo do presidente da Paraíba após ter seu escritório invadido pela polícia. Os agentes acharam cartas e telegramas que o envolviam em alianças com cangaceiros e moedas falsas. O jornal A União publicou o teor desses documentos", diz o escritor.

O escritor José Octávio também garante que as cartas de Anayde Beiriz nunca foram publicadas pelo jornal A União. "As cartas publicadas nunca foram de Anayde Beiriz. Eram cartas do próprio Dantas e não cartas de poesia ou de romance, como muito foi dito ao longo da história. O jornal nem sequer cita o nome de Anayde. Nem mesmo o próprio João Dantas, quando foi interrogado na cadeia, afirmou que o motivo do crime era ela", enfatiza.

Para esclarecer a questão, os dois historiadores resolveram publicar em seus livros a cópia das edições veiculadas entre os dias 21 a 26 de julho. Nelas, é possivel ver apenas as denúncias sobre supostos crimes praticados pelos Dantas. As cópias estão disponíveis nos livros "João Pessoa, o reformador", de Wellington Aguiar e em "A Revolução Estatizada", de José Octávio de Arruda Mello.

Indiferentes à polêmica dos historiadores, o casal de namorados tiveram um destino triste. João Dantas foi encontrado morto na prisão. Bilhetes achados depois indicam que Dantas tinha interesse em se matar. Mas até hoje não se sabe ao certo se ele se suicidou ou se foi assassinado. Anayde decidiu sair da Paraíba e foi viver num convento em Pernambuco. Há relatos que, lá, ela também tenha morrido e sido enterrada como indigente.

Apesar dos desfechos trágicos, a história mostra que João Pessoa foi mais que um governante para os paraibanos. Vítima das próprias virtudes, ele não teve tempo de realizar todos os sonhos, mas deixou um legado para o povo. "Foi um homem destemido que quis moralizar a Paraíba e conseguiu muitos inimigos. Mas deixou seu nome escrito na nossa história como um exemplo de caráter e de coragem a ser seguido", analisa a historiadora e professora Marta Falcão.

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